Cada um de nós é por enquanto a vida. Que isso nos baste.

José Saramago

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

uma carta de amor



Fulano,
Revejo e te asseguro: tô no lucro! De certo, só te sei por esparsas notícias dadas por Beltrano e por Cicrana que te soube por presença no congestionamento. Deduzi que tu trocou de carro, que de mulher eu já sabia. E desde sempre.
Nunca dormi com a esperança, jamais acordei que não fosse com a dúvida, mas o remorso não se senta à mesa comigo. Faria tudo de novo. E outra vez. E sempre pois de mais valia foram
os minutos em seus braços que minhas horas em minhas mãos. Eufemismo, sim. Não vou escrachar a minha solidão escrevendo “siririca”.
Tô puta, Fulano, tô muito puta, mas não sou puta por vocação. Por talento, sim. Foda saber que aquela mixaria que tu deixava no criado mudo era pagamento, não pela minha presença no teu
durante, sim pela minha ausência no teu depois. E a merda da frase escrota: “uma bobagem pros seus alfinetes”. Alfinete é o caralho. O teu caralho. Nada se parece mais com um alfinete.
Não esqueço a merda da história que tu contou sobre uma raposa e umas uvas. Não esqueço porra nenhuma do que tu dizia na mesa do boteco, lembro o brilho de cada perdigoto teu refletindo
a filosofia barata que tu vomitava enquanto teus dedos me subiam pelas coxas e entravam pela minha buceta adentro como se fossem dono e senhor, dois pra lá, dois pra cá. “Tu deixaste que
murchassem minhas flores, meu bouquet de fantasias”. Lero-lero, cara. Papo furado. Papo aranha.
Mas tô no lucro, podes crer. E nem falo do Wanderson porque esse, coitado, já nasceu filho da puta e, como tal, nunca vai saber, desta boquinha que a terra há de comer, que o pai dele só tem de
parecença com ele o fato de também ser filho da puta. E nem falo que seja lucro eu saber dos teus segredos, das manias e das taras. Vela no cu, puta que pariu. Até aquela de sete dias que
eu guardava pra acender pra minha mãe, Iansã, eparrei Oyá. 
Mas tô no lucro, Fulano, podes crer, porque a cada vez que me arreganhei pro teu tesão foi por amor, seu filho mal parido de uma égua, foi por amor. POR AMOR!
Fulana
 

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